quarta-feira, outubro 31, 2007



Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz


Valsinha - Chico Buarque / Vinícius de Morais

domingo, outubro 28, 2007



Há um momento em que sentimos que não há volta a dar-lhe.
Aqueles olhos vão ser os nossos olhos.
Os narizes que se tocam estão destinados a viver um com o outro.
Há um momento de arrepio gelado de que pode vir o fim do mundo mas os braços são aqueles.

Um momento daqueles que dá para escrever uma vida inteira sobre ele.
Um momento daqueles pelo qual vale a pena viver.
...

Infinitamente

...

sexta-feira, outubro 26, 2007

um fio






Somos um fio.
Um fio em cima de um fio.
Todos os sonhos, todos os desejos vão ficando guardados sem
que nos apercebamos e de repente as crianças cresceram, a
solidão foi chegando. O corpo que temos ao nosso lado nunca
teve o sorriso que sonhámos, o cheiro que quisemos, a cor que
precisávamos. A pasta do trabalho vem cheia de tralha que
nunca pensámos viesse a ser nossa. A casa onde vivemos tem
paredes que nos comprimem a alma, o espírito.
E entre tudo, o tempo passou. Voou.
Voaram pessoas, voaram sonhos, acabamos por voar nós.
Vazio e fino o fio.
E querer arriscar. Arriscar que não vai ser assim. Querer ser fio
dansante, flutuante, cantante (!) qual universo das cores que
transformam a nuvem mais escura que anuncia tempestade, em
algodão doce sem corantes.
Saber que chegam rápidos os tempos em que os sonhos e a força
se vai. Saber que a derrota chega e nos imobiliza. Agir rápido.
Saltitar por entre fios.
E na lápide: Fui feliz.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Baile de Formatura



Eu não sonhei
que você estava linda.
Eu realmente fui ao baile
e vi você de relance, linda,
de uniforme de normalista,
e seus olhos eram olhos
de uma mulher enamorada,
parecida com a Malu Mader.
Sentindo frio em minhalma,
procurei o bar
p’ra tomar cuba-libre e coragem.
Quando voltei pro salão
você não estava.
Tinha casado e mudado.
Ainda havia flamingos,
viagens sentimentais,
encantamentos, convites,
damas apaixonadas,
sofisticadas e vagabundas,
a quem amei, mesmo sabendo
que isso não pode ser amor.
Não adianta me chamar
de irresponsável.
Eu estava me sentindo um tolo
por querer você.

Ainda assim, tive luas azuis,
luas pálidas,
luas brilhando sobre
cidades desconhecidas
e um caso para relembrar
e esquecer,
e novo tempo de partir
e o que será, será,
as luzes da cidade
refletindo
um sorriso na lembrança,
um certo sorriso de verão,
cerca de meia-noite,
um sorriso de velhos amigos
embora estranhos no paraíso,
e esse sorriso reacendeu
minha velha chama:
eu dançaria a noite inteira
de rosto colado,
dançando no escuro
canções de setembro,
dançando na chuva,
nas areias da maré baixa,
mas você ainda não estava
dançando a melodia imortal,
você era uma estrela
piscando acima do arco-íris,
e de repente havia fumaça
em seus olhos,
amores clandestinos,
minha garota melancólica,
até nosso reencontro,
mas depois daquela última dança,
corpo e alma,
nunca mais seremos os mesmos.

Hoje a canção é você
e eu estou feliz
por ser infeliz nessa fascinação
entre folhas mortas,
gardênias azuis,
serenatas ao luar,
canções da Índia,
cartas de amor...
With a song in my heart
eu te esperei vinte anos,
acordado e triste,
no salão silencioso e apagado.
Você mudou, noite e dia,
mudou suave e adoravelmente,
e ainda tem os mesmos olhos,
olhos de mulher apaixonada,
olhos de Malu Mader,
e agora, por causa de você,
por tudo que você é,
eu posso finalmente sonhar
que durante todo esse tempo
você não flertou com ninguém,
e que olha só para mim,
meu amor,
meu par.



Aldir Blanc

segunda-feira, outubro 22, 2007

País de las neblinas

En el país de las neblinas
siempre entre neblina
nunca pasa nada
Y si pasa algo
no se puede ver nada
por la neblina
Cuando se vive entre la neblina
uno se acostumbra a la neblina
y ya no quiere ver nada
Por eso, en el país de las neblinas
no querías ver
hay que oír
no puedes vivir, sin oír
y las orejas comienzan a crecer
Gente como conejos
con orejas blancas de neblina
habitan el país de las neblinas

Kwang-Kyu Kim (Poeta da Coreia do Sul, 1941 - )

domingo, outubro 21, 2007

Respeitável público, começa agora a mais esperada atração!

Vem aí o fantástico mundo de Laranja Lima!