sexta-feira, outubro 26, 2007

um fio






Somos um fio.
Um fio em cima de um fio.
Todos os sonhos, todos os desejos vão ficando guardados sem
que nos apercebamos e de repente as crianças cresceram, a
solidão foi chegando. O corpo que temos ao nosso lado nunca
teve o sorriso que sonhámos, o cheiro que quisemos, a cor que
precisávamos. A pasta do trabalho vem cheia de tralha que
nunca pensámos viesse a ser nossa. A casa onde vivemos tem
paredes que nos comprimem a alma, o espírito.
E entre tudo, o tempo passou. Voou.
Voaram pessoas, voaram sonhos, acabamos por voar nós.
Vazio e fino o fio.
E querer arriscar. Arriscar que não vai ser assim. Querer ser fio
dansante, flutuante, cantante (!) qual universo das cores que
transformam a nuvem mais escura que anuncia tempestade, em
algodão doce sem corantes.
Saber que chegam rápidos os tempos em que os sonhos e a força
se vai. Saber que a derrota chega e nos imobiliza. Agir rápido.
Saltitar por entre fios.
E na lápide: Fui feliz.

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